domingo, 27 de maio de 2018

Somos contas de um mesmo Rosário


Para a 17ª Festa do Rosário dos Homens Pretos de Penha de França, apresentamos um grande fio, nele cada um e cada uma é chamado(a) a colocar a sua conta até formar um grande rosário.

Rosário, literalmente refere-se a um objeto que durante séculos as pessoas, especialmente as mais simples, usavam para fazer as suas preces e súplicas à Nossa Senhora, meditando os mistérios da vida de Jesus Cristo, no entanto, o Rosário também tem sentidos metafóricos.

Ele pode fazer alusão a vida coletiva, a vida em comunhão uns com os outros, com a natureza, com nossos antepassados, remete ao mundo como teia de relações entre o divino a comunidade e a natureza. O grande fio no qual colocamos as nossas contas (energia, vida, contribuição).

“Somos um Rosário de muitas contas”, como escreveu o nosso querido compositor Tita Reis, sem as contas, ou seja, as pessoas, não há vida coletiva, não tem oração! “Sou porque nós somos”, como também nos ensina a filosofia africana Ubuntu, ser humano é ser com os outros, se um é afetado, também sou afetado, somos unitários, mas plurais.

Sabemos, porém, que muitas vezes a vida comunitária tem os seus desafios, os conflitos vêm à tona e as dificuldades nos desanimam e colocam a vida coletiva em questão, nesse sentido apresentamos uma estória contada pela poetisa africana Tolba Phamen que nos traz uma bonita inspiração sobre viver em comunhão, chamada de a “Canção dos homens”: 

Em uma certa aldeia de algum lugar da África, quando uma mulher descobre que está grávida, segue para a floresta com outras mulheres e juntas rezam e meditam até que aparece a “canção da criança”.
Quando nasce a criança, a comunidade se junta e lhe canta a sua canção Logo, quando a criança começa sua educação, a comunidade novamente se junta e canta a sua canção, assim se repete quando ela se torna adulta, quando chega o momento de seu casamento. No fim de sua vida quando sua alma está para ir-se deste mundo, a família e amigos aproximam-se e, igual como em seu nascimento, cantam a sua canção para acompanhá-lo na “viagem”.
Nesta aldeia africana há outra ocasião na qual a comunidade canta a canção.
Se em algum momento da vida a pessoa comete um erro grave, ela é levada ao  centro do povoado, a comunidade forma um círculo ao seu redor.
Então a sua canção é cantada. “A aldeia reconhece que a correção para os erros não é o castigo, é o amor e a lembrança de sua verdadeira identidade que vem do reconhecimento e recordação da nossa própria canção”.

A proposta não é passar por cima das nossas insatisfações e diferenças. O convite é para que como grande Rosário que somos nessa grande festa e na vida possamos sentar em roda e cantar a nossa canção, lembrar o que compõe a identidade da nossa comunidade formada por diferentes rostos, gostos, histórias, erros e acertos:
Mulheres, homens, adultos, velhos, crianças, negros, brancos, indígenas, imigrantes, pessoas de diferentes origens e orientações sexuais, o reino vegetal, mineral, animal, a força ancestral!

 Nenhuma “conta” pode ficar de fora:

“Eu e ela e ele e tu e nós e tudo
Nossa Senhora abençoa
Conte comigo irmã
pra nós nunca perder a conta
sempre mais fica bonito
um Rosário de muitas contas”
(Tita Reis)

Está todo mundo na roda? Simmmmmm! Então, que comecem os festejos!!!

Claudia  Rosalina Adão – maio de 2018/Outono

Confira aqui programação completa da 17ª Festa do Rosário - 2018

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